Revolucionar

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sábado, 20 de março de 2010

O levante do TAC

Florianópolis, Teatro Álvaro de Carvalho, 18.3.2010


Um plano do povo

Por Elaine Tavares – Jornalista*

Enganam-se os que pensam que Florianópolis – a velha Miembipe - é um espaço conservador ou reacionário. Aqui, nas veredas da vida real estão as gentes a protagonizar momentos históricos importantes. Foi aqui que começou a agonia do regime militar, com os bravos estudantes – junto com o povo alçado em rebelião – promotores da inesquecível “Novembrada”, assinalando a derrocada do presidente que amava mais o cheiro dos cavalos do que do povo. Foi aqui também que as gentes se levantaram na revolta da catraca, contra as falcatruas dos empresários do transporte coletivo. E, todos os dias, nos bairros, nas vilas, nas comunidades, a população está protagonizando alguma luta importante contra os que querem destruir a vida. Este é um espaço de gente que luta e constrói novas propostas de organizar a vida.

Foi assim nesta quinta-feira, dia 19. Este povo todo, vindo dos lugares mais longínquos da cidade, com faixas, cartazes, camisas pretas, e toda a gana possível, realizou mais um feito histórico. Erguidos em luta, aqueles que amam o lugar onde vivem, vieram protestar contra a farsa montada pela prefeitura municipal, que pretendia homologar um plano diretor da cidade, construído sem a voz das comunidades. Esta gente, que durante três anos ocupou noites e noites de suas vidas para discutir a cidade e encontrar caminhos viáveis para existir neste especo caótico, acorreu à audiência e decidiu que ali, a sua voz haveria de ser ouvida. E assim se fez!


A cidade e o caos

Meia hora antes da audiência na qual o Instituo Cepa – empresa privada contratada pela prefeitura para fazer o Plano Diretor – iria apresentar a proposta que desenhou, amparada nos desejos dos empresários especuladores, já se vislumbrava a cidade que haveria de assomar daquele plano. Trânsito parado em todas as direções. Parado na Beira-Mar, no túnel, nas imediações do TAC. Buzinas tocando sem parar, gente gritando. O caos. A cidade desenhada para servir aos carros mostrava sua face irracional. Sem um transporte coletivo eficaz, as pessoas optam pelo carro e comandam um festival de engarrafamentos que tornam a mobilidade urbana um inferno. E isso com pouco mais de 380 mil habitantes.

O plano diretor construído pela CEPA quer tornar esse inferno ainda maior. Propostas esdrúxulas como prédios de oito andares na Lagoa da Conceição, de seis no Campeche e por aí afora, prognosticam uma Florianópolis de amanhã com 800 mil habitantes, um milhão. Uma cidade vertical para a classe média. Um lugar onde os ricos haverão de ter suas “ilhas de paz e beleza”, ainda que para isso seja necessário privatizar praias, como a do Costão do Santinho, ou mesmo o maior aqüífero que há na ilha, o aqüífero dos Ingleses. Ali, sob o lençol de água, os ricos jogarão golfe, enquanto as gentes amargarão a falta do líquido que garante a vida.

Pois o povo organizado nas comunidades, nas associações de moradores, disse não. Estudaram a cidade por três anos, construíram propostas, apresentaram alternativas, saídas viáveis para a vida, para as moradias, o transporte, para tudo. Só quem vive numa cidade sabe o que nela falta. O povo tem a resposta para cada questão. E isso foi feito em audiências públicas, oficinas, reuniões, tudo documentado. Por que então, a prefeitura vinha dar um golpe, impondo um plano que a população não quer? A cidade iria se levantar. E foi o que fez.


A audiência

A noite baixava sob a capital parada e caótica. Mas as pessoas caminhavam. Vinham de todo canto, de ônibus, de bicicleta, de carro, à pé. Encheram o TAC, ocuparam as calçadas, eram mais de mil. Multidão. Vieram os pescadores, os nativos, os ecologistas, as senhoras de idade, os estudantes. Vieram os líderes comunitários, os sindicalistas. Todas as cores e tendências políticas unificadas na luta contra a especulação e a destruição da cidade. Foi bonito de ver.

O presidente do IPUF iniciou a audiência, chamou o presidente do Instituto CEPA. Já começaram as vaias. Cada autoridade chamada era apupada. Manifestação pacífica, direito das gentes. As caras, na mesa, se torciam, incomodadas. As vaias seguiam. Átila Rocha dos Santos, presidente do IPUF, mostrou a cara autoritária da prefeitura. “Ou param ou suspendo a audiência e chamo a polícia”. A tropa de choque já aguardava do lado de fora, pronta para agir, porque é comum aos dirigentes que não são democráticos, terem medo do povo. Foi o que bastou. A gritaria foi geral.

Então, no meio do corredor assomou o vereador Ricardo Camargo Vieira (PCdoB), fazendo aquilo que deveria fazer um político que tem mandato do povo: com um megafone, suplantando o som do mestre de cerimônias, gritou o protesto das gentes. “Esta audiência é uma farsa, esse não é nosso plano”. A ação do Dr. Ricardo foi a deixa para que cada pessoa que ali estava quisesse dizer sua palavra. O presidente do IPUF gritava, chamando a polícia. Entrou a guarda municipal, mas nada mais detinha as gentes. Elas foram subindo no palco e revezando o megafone. As autoridades da mesa escapuliram, o diretor do IPUF mandou cortar o som. Ninguém se importava. Tinham suas gargantas e reivindicavam. Cada bairro, cada liderança, pessoas comuns, todos tinham algo a dizer. “Esse não é o nosso plano”, bradavam.

No meio do protesto uma cena intrigante mostrou bem a cara da imprensa local. O jornalista da RBS adentrou ao teatro, e, imperturbável, atravessou o corredor onde as pessoas se aglomeravam com faixas e cartazes, mostrando que ali acontecia mais um momento histórico na vida da cidade. Pois o jornalista nem olhou para a vida que se expressava no teatro lotado. Seguiu até o palco e foi lá para trás, onde estavam os dirigentes da prefeitura, protegidos pela guarda municipal. A voz do povo não haveria de sair da rede dos baixos salários, na rede da mentira. Simbiótica relação da mídia entreguista com os que querem destruir a cidade. É tudo parte de um mesmo grupo.

O povo seguiu com sua audiência. Já não havia dirigentes da prefeitura na mesa, o palco era das lideranças comunitárias. Uma assembléia popular. Democracia direta. Decidiu-se então dar seguimento a audiência pública. Foi feita uma ata e todos assinaram. Por um momento se fez uma cena mítica. No corredor, as pessoas faziam fila, assim como na missa quando vão comungar. E, para quem olhava emocionado, era isso mesmo. As gentes comungavam da mesma idéia, do mesmo desejo: proteger a cidade, garantir vida boa e bonita para todos.

Na ata, lavrada de forma coletiva, a decisão popular: “Este não é nosso plano. Não aceitamos essa imposição da prefeitura. Queremos a decisão tomada nestes três anos de encontros e participação comunitária”. O documento será registrado e enviado à prefeitura. A audiência se fez e, embora o presidente do IPUF tenha negado a palavra ao povo, o povo a tomou. E a disse.

No jornal Diário Catarinense do dia seguinte, veio a nota lacônica: confusão impede aprovação do plano diretor e ele será enviado direto para a Câmara de Vereador. Logo, segue a arrogância e a surdez do executivo municipal. A prefeitura continua fazendo de conta que não ouve a voz da população. As comunidades disseram não, mas eles não escutam. Só conseguem ouvir a voz dos que depredam e destroem. Estes sim fazem “confusão”, como diz a reportagem patética, expressão do péssimo jornalismo que é praticado pelas empresas locais.

Mas, o povo que estava ontem no TAC acredita na sua força. Vai usar a justiça, vai exigir posição do Ministério Público, acredita também na visão honesta de pessoas como a procuradora Ana Lucia Hartmann, que foi ovacionada pelas gentes a gritarem seu nome, em honra de sua postura séria e de defesa da integridade da vida. O povo se organiza e cresce em número e fortaleza. Já está marcado um protesto para este sábado, dia 20 de março, na Lagoa da Conceição. E outro, ainda maior, no dia 23 de março, dia do aniversário da cidade, em frente da Assembléia Legislativa, às seis horas da tarde. A cidade vai se movendo, o povo vai aprendendo, e as gentes fazem andar as palavras democracia e liberdade. A cidade é do povo e é ele quem tem de decidir. Não meia dúzia de empreiteiros e políticos de meia pataca.

Florianópolis pode viver uma hora histórica. É chegado o momento de todos saírem às ruas a defender a vida e o direito de se existir em harmonia com a beleza que é este lugar. Não foi sem razão que ao final do bonito momento de rebelião, as pessoas, de olhos marejados, se puseram a canta a música do Zininho, o hino da ilha: “um pedacinho de terra perdido no mar, um pedacinho de terra, beleza sem par”... E naquelas caras de gente trabalhadora, a mais absoluta certeza: esse pedacinho não está perdido, não sem luta!


*Existe vida no Jornalismo

domingo, 7 de março de 2010

Um diálogo

Dois burros conversavam quando um perguntou ao outro:

- Imagina você que quando um humano quer ofender a outro humano o acusa de burro. Por que será?
- Não tenho a mínima idéia.
- Quando será que isso começou?
- E quem sabe?
- Realmente é estranho isso...Humano chamar o outro de burro como ofensa.
- Talvez porque chamá-lo de humano fosse ofensa maior.
- Você acha?
- Claro! Você já viu algum burro explorar outro burro?
- Não.
- Você já viu algum burro oprimindo outro burro?
- Não.
- Você já viu algum burro abandonar a cria?
- Não.
- Você já viu algum burro sem teto?
- Não.
- Você já viu algum burro sem terra?
- Não.
- Você já viu algum burro torturando outro burro?
- Não.
- Você já viu algum burro declarando guerra a outro burro?
- Não.
- Você já viu algum burro invadindo o país de outro burro?
- Não.
- Você já viu algum burro matando ou morrendo em nome de Deus?
- Não.
- Então, qual ofensa é maior, chamar de burro ou de humano?

FONTE: http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

A visita de Hillary Clinton ao Brasil

Laerte Braga*
07.Mar.10 ::

Durante a visita de Hillary Clinton “deputados do PT, em resposta à clara intervenção de Hilary em assuntos internos do Brasil, questionaram a miséria nos EUA, a falta de atendimento médico a mais de 40 milhões de cidadãos norte-americanos, as intervenções militares em países do Oriente Médio e no Afeganistão, a morte de civis em flagrante violação aos direitos humanos, a prisão de Guantánamo e outros pontos, como o eixo EUA/Israel”. A senhora Clinton não gostou. É natural.

A secretária de Estado do governo dos Estados Unidos reuniu-se com senadores e deputados brasileiros para discutir temas como o Irã, o reconhecimento do governo golpista de Honduras, as propostas do governo Obama para a América Latina e a velha cantilena que o Brasil é importante parceiro dos EUA na preservação da democracia na América Latina.

Hilary Clinton está no Brasil para tentar atenuar o impacto das posições do governo Lula sobre temas como esses que discutiu a portas fechadas com parlamentares no gabinete do presidente do Senado, José Sarney.

Os norte-americanos têm consciência que, a despeito do envolvimento de várias agências daquele país no processo eleitoral de outubro (a eleição do futuro presidente, entre outras), em franco apoio a candidatura José Collor Arruda Serra, o presidente Lula tem chances concretas de eleger sua candidata, a ministra Dilma Roussef. Essa perspectiva contraria interesses de Obama que pretende ver retomada a agenda do governo de FHC.

A privatização de empresas como a PETROBRAS, o BANCO DO BRASIL, uma parceria estreita (que significa controle) sobre a exploração das reservas petrolíferas do pré-sal e uma presença maior na Amazônia e na região Meridional do Brasil, tanto através de empresas, como das famosas “bases militares de combate ao tráfico de drogas”.

A política externa de Lula é o ponto alto de seu governo. O trabalho desenvolvido pelo ministro Celso Amorim deu ao Brasil uma credibilidade impressionante em todo o mundo e colocou o País no centro de importantes decisões, cada vez mais contrárias ao imperialismo norte-americano. E por dentro do próprio modelo neoliberal. Lula não mudou a estrutura político econômica do Brasil.

Deputados do PT, em resposta à clara intervenção de Hilary em assuntos internos do Brasil, questionaram a miséria nos EUA, a falta de atendimento médico a mais de 40 milhões de cidadãos norte-americanos, as intervenções militares em países do Oriente Médio e no Afeganistão, a morte de civis em flagrante violação aos direitos humanos, a prisão de Guantánamo e outros pontos, como o eixo EUA/Israel. O último «feito» desse eixo foi a falsificação de passaportes de países europeus para que agentes do serviço secreto de Israel, o MOSSAD, pudessem assassinar um líder do Hamas em Dubai.

Hilary esteve com o chanceler Celso Amorim e deve ter estranhado as diferenças entre o ministro brasileiro de Lula e os dois ministros de FHC. Lampreia e Celso Láfer. Lampreia aprendeu a dizer sim senhor faremos tudo que o mestre mandar e não dizia outra coisa durante o governo do marido da secretária. Láfer chegou a tirar os sapatos no aeroporto de New York para submeter-se a uma revista, fato inadmissível e que FHC engoliu em seco, já que funcionário da Fundação Ford, braço do governo e da iniciativa privada nos EUA para países latino-americanos.

Há dias o presidente Lula fez duras críticas às posições dos EUA no Oriente Médio e citou a farsa das armas químicas e biológicas para a invasão do Iraque, no episódio que culminou com o afastamento do embaixador brasileiro José Maurício Bustani, então presidente da Agência de Energia Nuclear da ONU, por não aceitar pressões e recusar-se a assinar um relatório falso sobre essas armas inexistentes.

A passagem de Hillary pelo Chile a pretexto de dar solidariedade à presidente Bachelet diante da tragédia do terramoto e tsunamis que abalaram e abalam o país, trouxe de volta a participação crítica dos militares no processo democrático e o novo presidente, eleito com apoio dos EUA, já disse que vai endurecer estendendo o toque de recolher no país e ampliando a presença militar em várias outras áreas.

A simples ideia que o Brasil possa continuar a trilhar caminhos de preservação de sua soberania e venha a avançar no processo de ocupação de seu próprio território, Amazônia e sul do País, assusta ao governo dos EUA. A perspectiva de um gigante adormecido que acorda e começa a caminhar por suas próprias pernas não interessa a Obama e nem a Wall Street. Querem o Brasil de quatro e por isso mesmo Hilary termina sua visita depois de avistar-se com Lula, em São Paulo, onde, naturalmente, José Collor Arruda Serra vai desmanchar-se em salamaleques e rodopios na valsa da submissão.

Conversar primeiro com congressistas antes de avistar-se com o presidente do Brasil é um insulto, um desrespeito e mostra os verdadeiros objetivos da visita de Hilary. Quando Obama disse, logo nos primeiros dias de seu governo, que Lula «é o cara», estava contando que funcionasse aquele esquema de troca de colares, pirolitos e chicletes pela PETROBRAS, pelo BANCO DO BRASIL, tal e qual funcionava no governo FHC. Os colares, os pirolitos e os chicletes vinham recheados de dólares em contas no exterior.

Segundo Hilary o povo hondurenho está sofrendo com as sanções impostas pelo Brasil ao governo golpista e sua extensão. Não falou sobre o bloqueio norte-americano imposto a Cuba desde 1962 e seus efeitos. Na prática a secretária quer arrastar os governos da Venezuela, da Bolívia e do Equador ao reconhecimento da situação de fato em Honduras, golpe «legitimado» por uma grotesca farsa eleitoral, ao mesmo tempo que tenta afastar o Brasil das políticas de integração latino-americana e que envolvem governos populares na América do Sul e América Central.

A disposição de se criar um organismo latino-americano, que exclua EUA e Canadá, manifesta por governos dessa região, é inaceitável para os donos do mundo, acostumados a enxergarem a América Latina como quintal, como América Latrina.

Já que a moda é muro, levando em conta os problemas criados por norte-americanos em suas políticas colonialistas, imperialistas, qual tal cercar os Estados Unidos com um grande muro impedindo a exportação do modelo Disneyworld, aquele em que você imagina que as assombrações do trem fantasma são só ficção, quando na verdade chegam aos bandos com epíteto de «libertadores».

Que o digam os presos quando da ocupação do Iraque, ou os detidos em Guantánamo.

As unhas e as garras do governo branco e ariano de Obama começam a ser mostradas sem disfarces em países como o Brasil.

Hillary não pediu a Lula que não vá ao Irã, mas de forma solerte, que tente convencer o governo de Teerã a desistir de seu programa nuclear.

Se Israel tem perto de 60 bombas nucleares, isso é outra história, a senhora Clinton não fala sobre esse assunto, é «legítima defesa» do estado terrorista contra palestinos. Direito divino de ocupação de terras palestinas.

«Democracia cristã, ocidental e capitalista» servida ao mundo em bolos gigantescos de onde saem mariners e aviões que bombardeiam tudo o que possa parecer inimigo. Inclusive participantes de uma festa de casamento no Afeganistão.

É só pedir desculpas depois.

Torna-se desnecessário dizer que a mídia brasileira está toda emperiquitada com a visita da senhora Clinton. É, afinal, a representante legítima dos patrões.

* Jornalista brasileiro
Fonte: http://www.odiario.info