FOTO - Rafael Rodrigues
Em 2008 como em todo começo de ano, no primeiro
dia de aula, faço uma conversa com todos os estudantes, é um momento de nos
apresentarmos e nos conhecermos, para dar início a mais um percurso formativo
com o ensino de Geografia, Atualidades, Interpretação da Realidade Brasileira e
Mundial. São muitas história de trabalhadores estudantes com seus sonhos, e
dentro os vários, o de entrar na universidade. Ser o primeiro da família a
romper com a exclusão de poder cursar o ensino universitário, no curso que
deseja atuar na vida.
Dentro
os vários trabalhadores estudantes que se apresentaram nas 16 turmas do Pré
Vestibular Comunitário no ano de 2008, estava uma trabalhadora, mulher, negra,
no núcleo da escola Celso Ramos. Sentada no fundão, nas últimas carteiras,
levantou a mão e começou a se apresentar, e ao se apresentar falou da sua
decisão de pedir demissão do seu trabalho e se dedicar aos estudos. Não pude
deixar de dar um HUHUUUUU, quanta coragem nesta decisão de mudar os caminhos da
vida. Uma sábia escolha. A educação transformadora só acontece quanto os
trabalhadores estudantes estão dispostos a LUTAR.
Foram
longos quatro anos de pré-vestibular, três deles no PVC do Celso Ramos, até
conseguir romper a barreira da exclusão e poder entrar na Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC, e cursar ciências sociais noturno. Já no primeiro ano
de PVC, a Luciana Freitas se mostrou interessada em partir para a prática
transformadora, em querer mudar a realidade do seu território, na rua José
Boiteux, no Morro da Cruz, localizada no centro de Florianópolis. Assim escreveu
a trabalhadora estudante Luciana em 29 de junho de 2008 “sabe aquele lançe de liderança comunitária,estava afim de saber
como funciona.porque acho q eu tenho muito a somar, várias idéais passarm em
minha cabeça, mais primeiro tenho q estudar mais sobre o assunto, ou melhor
ficar mais preparada para poder avaliar como eu posso contribuir para com a
minha comunidade. tentar mudar a visão das pessoas, o q vc acha?eu tenho
zilhões de idéias mais as vezes falta coragem,eu não sei como começar.bom fim
de domingo áté amanhã!” (comentário no Blog REVOLUCIONAR)
Os anos foram
passando, e as experiências foram se somando, como monitoria do Projeto de
Educação Comunitária Integrar, como coordenadora da Gestão Estudantil Universitária
Integrar – GESTUS, na qual foi à responsável de articular os estudantes para se
organizar e de forma compartilhada resistir para permanecer dentro da
universidade, que apesar de ser pública, necessita de muitos recursos para
poder caminhar o longo caminho até a formatura. Mas recentemente, militando no
4P – Poder Para o Povo Preto, no MNU/SC – Movimento Negro Unificado de Santa
Catarina, como educadora popular de ciências sociais no Projeto Integrar e nos
Territórios do Maciço do Morro da Cruz.
Gostaria de
parabenizar por sua luta, pois estás inspirando muitas mulheres negras a
levantar a cabeça e somar na luta, na resistência contra as injustiças sociais,
na luta contra o racismo, contra a exclusão dos seus. Juntos, podemos resistir
e avançar em projetos revolucionários que transformarão a realidade social
daqueles sempre excluídos e marginalizados. Sua luta é coletiva, estamos com
você.
Como educador
popular, que acredito na educação como uma ferramenta de luta das classes excluídas
para a transformação social, sinto uma felicidade de poder fazer parte desta
história que está sendo escrita, de poder compartilhar ideias, de podermos no
debate discordarmos das estratégias, mas nunca do objetivo final, onde não haja
nem exploradores nem explorados.
VIVA NOSSA LUTA,
VIVA ZUMBI
VIVA LUCIANA FREITAS.