Revolucionar

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sexta-feira, 30 de março de 2012

UMA IDEIA – césar cardoso.



- Eu tenho uma idéia. Vamos fazer um país novo, partindo do zero. Bota aí uns 200 milhões de pessoas
-Ta doido é muita gente!
-Mas é pra ser mesmo.
-Mas é gente demais, não é não?
-Ta bom, 180 milhões e não se fala mais nisso.
-Sei não. Vem cá, pra começar como é que você vai arranjar trabalho pra essa gente toda?
-Não vai ter
-Ué, não?
-Não. É bom que não tenha. Tendo mais gente que trabalho, você paga pouco a quem trabalha.
-Visto por esse ângulo… mas eles vão trabalhar em quê?
-Nas empresas é claro.
-Claro? Pra mim é escuro. Bota aí metade deles trabalhando, já são 90 milhões, como que você vai fazer empresa pra essa gente toda?
-Nós não vamos fazer empresa nenhuma
-Ué, não?
-Não. Vamos trazer empresas de fora, que já estão prontas.
-E a troco de que elas vão topar vir pra cá?
-A troco não, a dinheiro graúdo, o dinheiro que eles vão economizar pagando muito pouquinho aos 90 milhões.
-Bom, visto por esse ângulo…
-Além do monte de matéria-prima novinha em folha que a gente vai dar a eles.
-A gente vai dar?
-Dar é modo de dizer. Mas vai.
-Vem cá, você não acha que os 90 milhões que trabalham e ganham miséria não vão acabar chiando?
-Acho.
-E fica por isso mesmo?
-Claro que não. A gente pega dois milhões deles e faz eles ficarem milionários, com um vidão de primeiro mundo pra nenhum botar defeito.
-Você é doido! Os outros vão morrer de inveja!
-Lógico, a idéia é essa!
-Ué, não entendi.
-A inveja é a filha mais nova e mais gostosa do desejo.
-E daí?
-Daí a gente  bolas uns anúncios dizendo, melhor, prometendo que esses desejos estão ao alcance de qualquer um.
-E eles não vão acreditar?
-E quem é que não acredita num anúncio bem feito, com calda escorrendo e mulher mais linda dizendo que você é o tal? Hein? Hein?
-Bom, visto por essa ângulo… mas e os outros 90 milhões que nem ganhar pouco ganham?
-O que que tem esses 90 milhões?
-Ah, esses não vão acreditar nem num anúncio bem feito.
-Claro que acreditam, esses aí são bem mais fáceis de enganar. Eles nem foram à escola!
-Não?
-Claro que não. Se não tem emprego pra eles, pra que que vai ter escola?
-Mas é tão bacana ir à escola!
-E você acha bacana ter 90 milhões  de pessoas espertas, esclarecidas e sem nada pra fazer?
-É, não é uma boa idéia, não. Mas eu acho que mesmo assim eles vão aprontar.
-Vão, com certeza vão. Tem gente que vai roubar, tem gente que vai matar.
-E aí?
-Aí a gente diz que a culpa é deles. Se tem 90 milhões que estudam e se matam pra ter um pouquinhozinho de dignidade por que que os outros 90 milhões são desempregados? Porque não querem nada com o batente.
-Mas eles não têm emprego nem que queiram.
-Mas se você contar isso pra eles meu amigo, eu sinto muito, mas vou te prender e te chamar de terrorista.
-Aí já sei, mesmo eu sendo teu melhor amigo, você acaba com a minha raça.
-Eu? Não toco em um fio do cabelo seu. Deixo você fugir e anuncio que o terrorista perigoso, uma ameaça às famílias, está solto!
-Pô, eles vão querer me matar!
-Mas eu sou teu amigo, não deixo eles te matarem. Assim esse joguinho não termina nunca.
-Mas a gente tava falando dos 90 milhões de desempregados.
-Que desempregado! Não vai ter desempregado no nosso país.
-Como não?
-Ta na cara, eles só são desempregados porque não querem trabalhar, o que faz com que eles deixem imediatamente de ser desempregados e passe a ser vagabundos. E não vão ser todos.
-Como é que você sabe que não vão?
-Essa é fácil, religião.
-O que a religião tema ver com isso?
-É uma receita. Pegue  um desocupado e encha a cabeça dele de religião, cria logo umas três ou quatro pra eles disputarem qual é a melhor. Além de obedientes, eles não vão pensar em fazer besteira.
-Será que não?
-Vai por mim, pra criar obedientes, a religião é o melhor que quartel. E quem não seguir uma religião qualquer nem for empregado só pode ser um marginal. E marginal, a ciência já provou que é um problema de nascença ou de código genético, área do cérebro, coisa assim.
-Eu não sabia, que ciência provou isso?
-A que a gente quiser. Afinal, que é que vai pagar os cientistas?
-Bom, visto por esse ângulo…
-E aí, gostou da minha idéia?
-Sei não, você tem sempre umas idéias mirabolantes. Acho que esse troço não vai dar certo. Como é o nome dessa idéia?
-O nome? Eu pensei Brasil.
-Brasil?
-Da onde você tirou isso?
-Sei lá. Acho que li em algum lugar e ficou na minha cabeça. Brasil.
-Bra-sil, não sei. Eu prefiro Zimbábue. É mais sonoro, tem mais ritmo, Zim… ba… bue!
-E por que não Nepal?
-Ih, mas você cismou com esses nomes curtinho terminados em Il…
Cesar Cardoso

terça-feira, 20 de março de 2012

MAIS UM DIA HISTÓRICO DE UM PROJETO DE LUTA.


MAIS UM DIA HISTÓRICO DE UM PROJETO DE LUTA.

Ontem, dia 19 de março de 2012, foi mais um dia para entrar na história do Projeto Integrar, que vem sendo consolidado, com a participação de uma equipe de professores, engajados, na luta, por uma educação totalmente gratuita, como direito, para todos estudantes.

Foi realizada, uma aula inaugural, que não existe em lugar nenhum, com a presença dos estudantes de 2011 do Projeto Integrar, estudantes que estão frequentando os bancos universitários, e estudantes de luta, que ainda não romperam as barreiras da exclusão universitária, mas que tiveram a coragem de ir lá na frente e dizer para todos, que eles não passaram no vestibular - ainda -, mesmo assim seus depoimentos contagiaram a todos.

A realidade brasileira, ainda apresenta os traços da exclusão, a maioria dos universitários que entram nas universidades públicas são de escolas particulares, pois o sistema de avaliação dos concursos vestibulares, afunilam as oportunidades para os estudantes de escolas públicas, que tiveram seu ensino médio, no período noturno, sendo que a maioria desses estudantes, ainda são ao mesmo tempo, trabalhadores, realizando triplas jornadas para manter a casa.

Para enfrentar essa realidade imposta, o Projeto de Educação Comunitária INTEGRAR, vem atendendo trabalhadores estudantes, que sonham em estudar em uma universidade, mas que não apresentam as condições de concorrerem em um concurso vestibular, sem antes relembrar os conteúdos do ensino médio, que não faziam, e muitas vezes insistem em não fazer sentido para as nossas vidas, para o nosso dia a dia.

Cada fala de um estudante do Integrar, foi uma conquista, uma vitória, um momento de pensarmos, como equipe, que o que estamos fazendo e lutando dia a dia, está se concretizando, pois esse Projeto Comunitário tem uma característica ímpar, ele é envolvente, as pessoas se sentem pertencentes, se sentem parte da história sendo construída dia a dia, e assim, se colocam a disposição para se somar na luta.

Desde o processo de divulgação, na colagem dos cartazes, nas panfletagens, até na organização coletiva dentro da universidade, os estudantes estão construindo um processo de transformação, para garantirmos à todos os direitos dos estudantes universitários.

Temos muito que avançar, mas sabemos – através dos depoimentos dos estudantes e falas dos professores - que estamos no caminho correto, com autonomia, participação coletiva, estamos construindo o novo.

Para finalizar as atividades da noite, tivemos uma roda de capoeira, com um estudante também do Projeto Integrar. O momento cultural foi fundamental para nos humanizarmos mais, para sair daquela educação conteudista que não leva a nada, para fazer sentido a vida, o envolvimento com o mundo real, com atividade de lazer, com a musicalidade da alma e do corpo. Isso tudo é INTEGRAR, e você pode fazer parte desta história, construindo de forma coletiva.


                                      
Kleicer Cardoso Rocha
educador popular