Revolucionar

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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Uma aula CHAMADA DANDARA.


          Como educador, cada dia em sala de aula é desafiador, pensar sempre aulas diferentes que possam fazer a diferença na vida e na formação dos seres humanos trabalhadores.

          No meu caso, fiz a escolha em trabalhar na EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, com trabalhadores que estudam, que labutam dia a dia e a noite entram na sala de aula a fim de desenvolver as habilidades da aprendizagem, para sua vida, e para o seu crescimento profissional.

         O tempo da vida dos que trabalham e estudam tem que ser levado em conta na hora de preparar uma aula, uma atividade, pois o cansaço físico, o sono, são extremamente contrários ao tempo do estudo, da leitura, da análise e da síntese de ideias.

         Na maioria dos casos o estudo para os que trabalham fica em segundo lugar, pois a prioridade é o trabalho, que lhe garantirá o sustento do lar. Ficando assim para o segundo plano a realização do seu antigo sonho de entrar na universidade e dar continuidade nos estudos. Eis um grande fator da evasão, na qual muitos professores desconsideram.

        No entanto, é por isso e para isso que estamos lutando, para que a educação seja pensada para os que trabalham, para que os conteúdos possam dialogar com a realidade e o dia a dia dos educandos, respeitando inclusive os tempos de vida.

        O processo de ensino-aprendizagem é um processo de descobertas, de conquistas, de criarmos as nossas ideias, com novas visões de mundo. Cada estudante cria a sua expectativa com a sua aprendizagem, e muitos vão à sala de aula sabendo que o que vão aprender não fará o mínimo sentido para a sua vida. Por isso, o educador, mais que nunca, precisa se desafiar e romper com o modelo conteudista inútil, que não leva a nada, a não ser a decoreba e doutrinação do corpo.

        Desta forma, o preparo de uma aula não é uma tarefa fácil, é mais difícil que dar a própria aula, pois preparar uma aula implica inúmeras outras atividades pré, ou seja, temos que pensar os inúmeros materiais complementares, como o texto que podemos usar, as música, os vídeos, as abordagens pedagógicas, quais conteúdos queremos trabalhar, pois o objetivo final sempre tem que ser a ampliação do grau de letramento e novas visões de mundo. Romper com o conformismo alienante é necessário e urgente.

       Quando a Aula Dandara foi planejada, o material usado foi pensado, na perspectiva dos trabalhadores, e foi encontrado num artigo do Jornal Brasil de Fato, n° 422, na qual fala de um processo de luta de classes entre a ocupação dos trabalhadores que não tem nada, e a especulação imobiliária que solicita a reintegração de posse, sem no mínimo ter cumprido com seus direitos e deveres com a sociedade brasileira.

       Quando se faz um debate deste, com conteúdo, conseguimos avançar na problematização da situação estudada e se apropriar de novos conhecimentos, como foi o caso, desta aula, na qual o debate ficou em torno de Dandara, pois Dandara representa um movimento de lutas da sociedade brasileira por justiça social, resgatando seu processo histórico, na luta pela libertação dos negros escravizados pelas oligarquias brasileiras. Conseguimos compreender um pouco mais as gritantes desigualdades sociais dos dias de hoje, reflexo do nosso processo histórico de exclusão.

       Ficou evidente o pouco conhecimento dos estudantes quanto à figura e o contexto histórico que Dandara representa, pois os livros de história deste país, ainda representam a visão dos vencedores e ocultam a voz dos vencidos.

      Como nos lembra Paulo Freire “não posso pensar-me progressista se entendo o espaço da escola (sala de aula) como algo neutro, com pouco ou nada a ver com a luta de classes...”. Que os estudantes possam se apropriar dos conhecimentos construídos historicamente, e ampliar suas categorias de analise, para que dentro da universidade possam fazer a luta a favor da classe dos trabalhadores, que ainda não estão dentro da universidade.

     Enquanto tiver um trabalhador estudante fora da universidade, há luta, e enquanto há luta, estaremos construindo uma outra educação possível no Projeto de Educação Comunitária Integrar.



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